Blade Runner nao me sai da cabeca neste ultimo dia chuvoso do ano. Batty e Deckard no alto de um predio. O replicante salva a vida do cacador de androides, a quem queria matar. E nos estertores do seu prazo de validade, acariciando uma pomba, o bonecao Batty desabafa para seu perseguidor uma das poucas falas que memorizei no cinema: I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time. Like tears in rain... Time to die.
FELIZ ANO NOVO!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
Recomeço
Todos os dias. Do elevador do prédio à torre do Rio Sul, vivo o fascínio dos encontros. Gosto de gente. De tocar, de ouvir histórias. Dou corda sempre. Na esquina da São Clemente, com tantos desconhecidos, os sorrisos se direcionam para os pedintes sem-teto. Troco suas súplicas por um iogurte, um pedaço de bolo e, a maioria das vezes, por bom dia ou não tenho nada, não, queridão. Desço a rua com o coração na batida dos passos rápidos. Quem me trará alguma novidade? Que caso vou contar quando chegar à redação?
Já vi um assalto na Guilhermina Guinle cedo. Um homem de uns 60 anos estacionou seu carro e a moto que vinha atrás com dois homens parou rapidamente no meio da rua. O carona desceu já com um revólver na mão e enfiou pelo vidro aberto do Vectra. Levou o envelope de papel pardo e a autoestima do assaltado. A motocicleta arrancou diante de uma pequena plateia que fez montinho na outra calçada. Segui meio abobalhada, só então notando que no tranco do susto que levei tinha arrebentado a tirinha que fechava a sandália. Arrastei o pé até a Voluntários da Pátria - a moto dos marginais voltou a passar rapidamente por mim, devia ter virado na Dona Mariana - e comprei outra, que só usei uma vez. .
Também já fui testemunha da dor de uma mulher que flagrou seu marido com a amante. Ela gritava palavrões, jogava-se em cima do capô do carro, chutava a porta, esmurrava os vidros. O pulha tentava arrancar, mas ela, como aquele chinesinho da Praça da Paz Celestial cheio de dignidade, se postava à frente do veículo ajoelhada. Ele não teve coragem de atropelá-la e tentou fugir a pé. Ela o encheu de tapas e bolsadas. A mulher que estava no carro aproveitou a distração da briga e desapareceu da vista de todos. O marido conseguiu acalmar a traída e a fez entrar no carro. O resto só imaginei: não é nada do que você está pensando, meu amor. Só dei carona para fulana. Não deixe nosso lar acabar por essa bobagem. Eu te amo.
A cada passo, uma história para acompanhar e criar. Marcas em ruas e prédios viram contos no meu trajeto com palavras ouvidas ao acaso dando contornos às tramas. É um mundo de instigantes enredos até chegar ao 31º andar dessa torre. Então, boto meus óculos e as definições me apavoram.
Já vi um assalto na Guilhermina Guinle cedo. Um homem de uns 60 anos estacionou seu carro e a moto que vinha atrás com dois homens parou rapidamente no meio da rua. O carona desceu já com um revólver na mão e enfiou pelo vidro aberto do Vectra. Levou o envelope de papel pardo e a autoestima do assaltado. A motocicleta arrancou diante de uma pequena plateia que fez montinho na outra calçada. Segui meio abobalhada, só então notando que no tranco do susto que levei tinha arrebentado a tirinha que fechava a sandália. Arrastei o pé até a Voluntários da Pátria - a moto dos marginais voltou a passar rapidamente por mim, devia ter virado na Dona Mariana - e comprei outra, que só usei uma vez. .
Também já fui testemunha da dor de uma mulher que flagrou seu marido com a amante. Ela gritava palavrões, jogava-se em cima do capô do carro, chutava a porta, esmurrava os vidros. O pulha tentava arrancar, mas ela, como aquele chinesinho da Praça da Paz Celestial cheio de dignidade, se postava à frente do veículo ajoelhada. Ele não teve coragem de atropelá-la e tentou fugir a pé. Ela o encheu de tapas e bolsadas. A mulher que estava no carro aproveitou a distração da briga e desapareceu da vista de todos. O marido conseguiu acalmar a traída e a fez entrar no carro. O resto só imaginei: não é nada do que você está pensando, meu amor. Só dei carona para fulana. Não deixe nosso lar acabar por essa bobagem. Eu te amo.
A cada passo, uma história para acompanhar e criar. Marcas em ruas e prédios viram contos no meu trajeto com palavras ouvidas ao acaso dando contornos às tramas. É um mundo de instigantes enredos até chegar ao 31º andar dessa torre. Então, boto meus óculos e as definições me apavoram.
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